O tema deste artigo pode parecer a primeira vista de menor importância para a causa dos animais, contudo, é um tema que embora considerado apenas um “afluente” entre os assuntos principais, não deixa de ser urgente e precisa ser denunciado e relatado.
Neste canal de comunicação nós já colocamos textos que relacionam o especismo com o racismo, contudo as relações entre especismo e sexismo ainda estão pouco discutidas, pelo menos aqui neste canal, por isso o texto a seguir é importante para trazer a tona nas mentes dos leitores a evidência da relação entre o abuso dos animais com o igualmente horrendo abuso das mulheres.
Sexismo, em termos claros, é uma postura cujo determinado grupo ou pessoa de um sexo afirma sua superioridade em relação ao grupo do sexo oposto, por apenas pertencer ao referido sexo. O sexismo se baseia falaciosamente em uma diferença natural ou biológica que em realidade é neutra, para se afirmar. Não existe só o mais evidente sexismo baseado em uma “superioridade masculina”, como também existem outros grupos sexistas que afirmar uma “superioridade heterossexual”, “superioridade homossexual”, ou até uma “superioridade feminina”.
Em termos factuais o sexismo mais impregnado é, talvez, o mais antigo, o que prega o mito da supremacia masculina heterossexual. Foi, e é até hoje de forma repaginada, afirmado por quase todas as culturas do mundo, endossado por figuras públicas e religiosos de todos os nichos. Alguns governos não se recriminam por serem extremamente sexistas.
Contudo, à partir do século XX, alguns grupos “homossexuais” e “feministas” ressentidos divergiram entre si e começaram a propagar doutrinas sexistas “inversamente” ao sexismo masculino heterossexual.
O diretor Neil LaBute refilmou o clássico The Wicker Man (O Homem de Palha) de Robin Hardy, e embora o filme possa ser considerado o maior fiasco da carreira do ator Nicholas Cage, nos permite a reflexão que faço aqui. Cage interpreta um policial que vai investigar o desaparecimento de uma garota em uma remota ilha na escócia, e descobre uma comunidade pagã governada por mulheres. O filme mostra uma situação em que os homens só são necessários para procriação, e sempre que necessitam reproduzir a população da ilha, um homem é atraído até esta.
Tal exemplo ficcional pode passar longe do plausível para nós, contudo, o oposto existe e é bem real e constatável. Na Costa do Marfim, como em muitos países africanos existe um ritual de circuncisão feminina. O órgão sexual feminino é dilacerado e extirpado para garantir que as mulheres não sintam prazer sexual, tornando-se dóceis e submissas aos homens. Como forma de garantir a fidelidade, os maridos costuram os lábios vaginais das esposas antes de viajar, para romper quando retornarem. As mulheres, que por ventura escapam da circuncisão são proibidas de conceberem. Ou seja, as mulheres são apenas objeto de uso dos homens e são apenas usadas como uma máquina reprodutiva, tal como o filme supracitado pinta, embora de forma diferente, contando com a mesma raiz ideológica.
Retornando ao nosso ocidente contemporâneo, muitas formas de sexismo são evidentes e contudo passam desapercebidas pela maioria de nós, em ambos os seus trajes. Muitas vezes as próprias vítimas do sexismo acreditam estarem “levando vantagem” sobre ele, embora na realidade, só colaborem para nichos de uma sociedade discriminatória e exploradora.
Já perguntei a muitas mulheres se posar para uma revista pornográfica é uma forma de prostituição, e muitas dizem que não acham que posar para uma revista masculina é uma forma de prostituição. Em seguida perguntei a estas mulheres o motivo, e descobri que o argumento se baseia em ser remunerada para tal, e o “desejo” de ser desejada por muitos homens. Perguntei também, a estas mulheres, por último, se uma prostituta poderia ser considerada uma pessoa explorada, embora fosse remunerada e desejada por vários homens. Obtive o silêncio de quase todas as entrevistadas, enquanto outras se desvencilharam do assunto sem me responder concretamente.
De qualquer forma, a utilização da imagem da mulher como um objeto, seja ele sexual, doméstico, reprodutor, ou qualquer que seja é uma forma de exploração. E qualquer exploração é deplorável apenas pelo fato de ser uma exploração.
O apelo sexista também existe não só explicitamente, como no caso das revistas pornográficas e coisas do gênero, como em forma embutida na publicidade. Note a leitora(or) que se não todos, a maioria dos comerciais de desinfetante sanitário, cozinha e assuntos voltados ao lar são protagonizados por mulheres. Isso evidencia o que pensa o senso comum sobre o papel da mulher (quase que exclusivo e por destinação da natureza) como dona-de-casa. Note também o oposto, todos (ou quase todos) os comerciais de automóveis e produtos automobilísticos são protagonizados por homens. Além do mais, o que dizer dos vídeo-clipes de música com o sempre mesmo apelo sexual de sempre colocando a mulher como objeto sexual. Músicas com títulos como “dirty” (suja) ou “bitch” (vagabunda) são comuns tanto em músicas de “artistas” homens quanto de artistas mulheres. Atrás da ditadura do “sexy” esconde-se talvez a mais vergonhosa forma de sexismo atual. É como se (perdoem os leitores e leitoras o meu palavreado) antes a sociedade bradasse: “Vocês são obrigadas a serem donas de casa, mães e prostitutas”, e agora algo do tipo “Vocês não são obrigadas a serem donas de casa, mães , e prostitutas, agora vocês podem ser tudo isso se quiserem também”. Reality Shows como Rock Of Love, exibido pelo canal fechado VH1, expõe várias mulheres “peitudas” e “bundudas” se esfregando no cantor Bret Michaels. O “propósito” do show é encontrar uma namorada para o cantor. O programa já está em sua terceira temporada, e desde lá, Bret Michaels teve relações sexuais com quase todas as participantes em todas as edições do programa. Não sejamos cínicos, ao assistir Rock Of Love, o público espera ver exatamente o que é exibido, um cantor fanfarrão “pegando” todas as “gostosas” participantes. Se não é sexismo um programa que mostra várias mulheres se arrastando ao pé de um homem que possui apenas dinheiro e fama, eu não sei o que é.
Até aqui discutimos apenas o sexismo. E onde entram os animais nisso tudo? Bem. A People for Ethical Treatment of Animals (PETA) publicou um cartaz em que uma mulher nua e sensual “protege” animais. A PETA é conhecida por suas polêmicas campanhas, mas desta vez passou dos limites. Como pode uma organização pró-animais lutar contra a exploração animal se compactua com a exploração sexista? Não é demais afirmar que racismo, sexismo e especismo caminham de mãos dadas, são irmãos, igualmente nefastos e devem ser combatidos em conjuntos. Não são peças que se pode remover de um quebra-cabeças, são aspectos fluídos de uma mesma ideologia, são galhos provindos de uma mesma raiz.
Mais recentemente a PETA deu outro furo sexista quando publicou o seguinte cartaz:
Nós não somos os únicos a enxergar as coisas desta maneira. O site gato-negro.org também expõe este ponto de vista em seus diversos artigos de crítica a PETA e a outras instituições bem-estaristas.
Espero que neste ponto do artigo já tenha ficado claro para o leitor as conexões entre sexismo e especismo, contudo, é preciso ir além e explorar o que dá título a este escrito. Até agora falamos da exploração sexista, e demos certa ênfase na exploração sexual da imagem da mulher. E quanto a exploração da imagem dos animais?
Todos nós que vivemos em lugares onde abundem churrascarias, restaurantes de frutos do mar, ou com ênfase em pratos à base de carne, e fast-foods principalmente já vimos alguma publicidade em que um “cartoon” de um boi feliz ilustra a propaganda do estabelecimento, ou então, um simpático camarãozinho de pelúcia é dado como brinde junto ao prato “kids”.
Maquiavelicamente (pois isto não a toa, e já vem de muito caso pensado dos publicitários) o apelo lúdico dessas empresas faz as vendas crescerem consideravelmente. Embora o “foco” sejam as crianças, tais estratégias funcionam bem para impedir uma reflexão em adultos pais destas crianças.
Ora, você leva teu filho ao shopping e ele vê no balcão um camarãozinho pendurado e diz “Pai, quero comer ali!”. Você sorri e compra um prato cheio de dor e sofrimento, teu filho ganha um bichinho simpático de pelúcia, você e teu filho comem alegres, acreditando que aquele foi somente mais um inocente e feliz dia em que um pai leva seu filho para almoçar em um restaurante, sem notar a incoerência lógica entre “ter um amigo camarão” (o apelo lúdico do bichinho de pelúcia) e comer um prato cheio de camarões.
O apelo ao lúdico para incrementar as vendas e “cegar” aos consumidores já é antigo.
Há alguns anos a indústria tabageira Japan Tobbaco Co., a terceira maior empresa do ramo, teve que mudar a publicidade do “garoto-propaganda” Joe Camel, dos cigarros Camel, em estilo de história em quadrinhos. Em 1990 nos EUA, quatro anos após Joe Camel ter estrelado, uma pesquisa mostrou que ele era um personagem conhecido por 91% das crianças estado-unidenses, o que o colocava em pé de igualdade como o Mickey Mouse.
Não só o apelo lúdico servia para cegar os consumidores, mas também apelos adultos são amplamente utilizados em propagandas querendo “ocultar” as verdades por trás de um produto. Mais uma vez, a indústria tabageira é emblemática. Tão censurada hoje em dia, após o que parecia um interminável período de olhos fechados aos males do tabagismo. Quem de nós que tem vinte anos ou mais pode se lembrar das fantásticas propagandas da marca Hollywood em que um piloto cruzava o mundo em um F1, ou então, das propagandas “descoladas” da marca Free. Até a ironia foi utilizada como forma de propaganda. Até há algum tempo atrás podia se ler na embalagem do Free: “ A primeira marca a divulgar os teores da fumaça do cigarro”.
Quanto o assunto é onivorismo, a coisa não poderia ser diferente. Recentemente a marca de cerveja Skol colocou em um de seus comerciais: “Arroz e salada são para elas, macho come carne e bebe Skol”. A busca do sucesso também inspira os publicitários. A churrascaria Montana Grill, da dupla sertaneja Chitãozinho & Xororó, que também são os proprietários, utilizam da fama alcançada pela dupla para alavancar os negócios.
Voltando ao assunto do tabagismo, as restrições à publicidade parecem ter dado efeito desejado e cada vez mais tem diminuído o número de fumantes, e de pessoas que começam a fumar. Depende de nós, a sociedade civil, cobrar que medidas similares também sejam aplicadas em relação a exploração e ao sofrimento dos animais. Visualizem o exemplo abaixo:
Fantástico não?
Excelente artigo!
ResponderExcluirlixo fascista!
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