Um sabonete no supermercado Wal Mart aqui de Campinas, de uma marca conhecida e que utiliza gordura animal custa em média R$ 0,70, enquanto um sabonete de uma empresa compromissada com o bem estar animal e que utiliza gorduras vegetais custa em torno de R$ 1,50.
Neste simples exemplo acima podemos ver o quão caro, para os padrões atuais, é manter uma postura integralmente vegetariana, por isso o vegetarianismo tem de adentrar nas fileiras dos grupos que combatem a pobreza. Sem uma condição econômica viável para as pessoas poderem realmente ter o direito de escolha dos produtos que consomem, não há esperança absoluta pela causa vegetariana e anti-especista.
O vegetarianismo sério vai muito mais além da questão alimentar, muito mais do que não comer carne ou derivados animais, é uma questão social importante e que emerge tempestuosamente em nosso século.
Os governos progressistas e marcadamente compromissados com o bem estar social estão vencendo a batalha homérica de colocar a carne no cardápio de seus súditos menos favorecidos, e batalha duplamente homérica será a dos vegetarianos de tirarem a carne deste mesmo prato, e colocar outras fontes de alimentos mais éticos.
No Brasil, e política a parte, é fato que muitos miseráveis saíram da linha desta condição com o governo atual, isto é um avanço social considerável. Contudo, com essa medida mais brasileiros vão consumir a carne e derivados animais, legando um desfecho eticamente indesejável. Foi uma batalha de muitos anos e que agora começa a surtir seus minguados mais eficientes resultados, porém, impõe-se o desafio ainda maior de superar a cultura do senso comum.
O caso brasileiro é mais complicado que o de muitos países, o churrasco e o carnaval são as celebrações mais difundidas e populares em nosso país, e as pessoas não se deram conta de quão nocivo é o cultivo destes hábitos. Como lutar contra o churrasco e o carnaval? Eis o desafio, e eis uma questão essencialmente filosófica, pois o que move o debate não são as respostas, mas sim a pergunta esfingítica que nos assombra.
Talvez não tenhamos muito tempo para teorizarmos antes de agirmos como se faz com tantas outras questões de cunho indispensável, e isto com certeza será causa de erros e vacilos durante nossa cruzada ética, porém, é importante que jamais desistamos de nossa tão nobre causa. É preciso que aprendamos com nossos erros, aprimoremos nossa tática, que aperfeiçoemos nossos discursos, métodos e modus operandi.
A pobreza não é só miséria material, é miséria em todos os sentidos. O miserável vê ausente sua liberdade de escolha, sendo ditado pelo menor preço aquilo que lhe é destinado pelo mercado consumir. O miserável não pode ascender a cultura, a filosofia e a política. O miserável que tão poucas vezes pode comer uma massa em um restaurante, torna-se a própria massa, uma união disforme, sem rosto e sem personalidade, que é usada para tapar buracos da enferrujada política econômica mundial.
O vegetarianismo para o miserável é o sonho mais distante e “insonhável”, é dos devaneios mais abstrato, o mais louco. É algo que um miserável possa viver eternamente, e eternamente desconhecer. Sua barriga ronca, suas barbas crescem, seu cérebro vagueia nas migalhas de energia que seu corpo precariamente consegue fazer vingar em sua existência.
Por tanto, não podemos cobrar dos pobres e miseráveis um vegetarianismo mais precário, pois não podemos cobrar do homem que não dorme, um sonho mais belo. Não podemos fazer um homem vislumbrar a mais próxima utopia, a mais latente realidade se este homem não pode se concentrar nas imagens que vislumbra, uma vez que seu estômago reclama a fome!
Ah, a fome! A fome, instinto mercenário que nos cobra diariamente sua cota de atenção, tempo e dinheiro. A fome não é justa, ela vem cobrar os que tem e os que não tem com seu fascio dolorido. Seu preço é a comida ou a morte.
Ora, vegetarianos, nosso sendeiro se vê salpicado por veredas tortuosas e que sem pestanejar devemos adentrar com nosso vigor e nossa coragem! Uma delas é a fome e a miséria, outra delas é a cultura e a política!
As vidas que beiram a morte que as espreita não são vidas, são existências. E existir não é o suficiente.
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