sábado, 9 de janeiro de 2010

UMA LIÇÃO DE ÉTICA

Os processos históricos pelos quais passa a humanidade e que nos relatam os livros de história parecem ter ocorrido de forma passiva, como se as coisas fossem acontecendo e mais tarde fossem classificadas em períodos. Apesar das datas estipuladas pelos estudiosos, não há de fato uma demarcação exata da transição entre a idade média e a moderna, por exemplo.

A noção de que os processos são graduais é correta. Não se dormiu uma noite na idade média e se acordou no dia seguinte já na idade moderna. Muitas gerações foram necessárias e uma mudança gradual e persistente de mentalidade precisou se operar conjuntamente com uma mudança de impacto sobre o espaço material. A medida que a humanidade foi pensando, foi agindo, e agindo foi mudando. Pensar e mudar são duas faces de uma mesma moeda, sendo que uma coisa não pode existir sem a outra. A pessoa que pensa, pensa em suas ações, e o pensamento corrige o agir, de forma que uma ação passada pensada é uma ação julgada, enquanto uma ação do porvir pensada é uma ação alterada. A pessoa que muda, muda porque já pensou o que mudar e como mudar. Nem todas as mudanças podem ser benéficas, contudo, todas as mudanças são pensadas.

Contudo, ainda que o pensamento seja livre dentro dos seus limites de espaço e tempo, como já dizia Kant, ele não é a esmo, tampouco aleatório. O entendimento, isto é, a faculdade de pensar, é norteada por algum princípio chave. Tal princípio, conceito, ideia, etc, é como o alicerce do edifício que se vai construindo e que se pretende que cada tijolo seja um pensamento e a argamassa que os junta, uma ação.

A chave do entendimento pode ser uma ideia religiosa, ética, política, pode ser racional e lógica como pode ser emocional e louca. Aos poucos as pessoas estão deixando suas chaves puramente religiosas e puramente políticas por uma chave mais consistente, a chave da ética. A ética é a água das ações humanas, o solvente das ideias e das ações. Pode-se ter uma ética que embebe a religião, mas pode haver algo que se pretenda religião sem uma ética?

A filosofia aplicada, outro nome que se pode dar a ética, é o substrato mental do pensamento definido e da ação concreta, e o papel da ética é sempre orientar para a direção de uma ordem orgânica, cuja ignorância leva ao caos e a auto-destruição de qualquer ideologia ou conceito. Tanto na religião quanto na política, o oposto a ética se chama corrupção. Um entendimento, por mais completo e hermético que for, se não estiver mergulhado em propósitos éticos, é um entendimento sem força moral e sem uma capacidade efetiva de sustentar uma mudança desejável, e por não ser defensável é carcomido aos poucos por aqueles que o abraçam torpes e depois, na busca de significado moral, o abandonam um pouco mais carcomido pelas lascas arrancadas com as unhas pelas pessoas que a todo custo tentaram se sustentar nele.

Uma nação, constituída dos maiores entendimentos técnicos, porém, sem o amparo da filosofia e da ética, é uma nação órfã de sentido, um corpo sem alma, fadado a vagar entre as migalhas deixadas por aquelas outras nações que construíram seu propósito na justiça e no entendimento amparado na moral.

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